Noite que adentra

Estava uma noite aziaga, a ansiedade galopava no peito, abrindo grandes olhos de expetativa. Mas a noite, essa, não estava convidativa. Era uma noite sem luar, sem estrelas, sem nuvens, sem lua. Uma negra noite, vazia, oca. Um logro. Foi nessa noite que tudo mudou. O olhar encovou-se numa ímpar tristeza e a ansiedade morreu no peito, dando lugar a uma prostração doente. O brilho dos olhos secou em lágrimas brotadas de par em par. Como essa noite vazia, assim é, às vezes, a vida. E tudo passa a ter um véu que enevoa a clarividência e o negativismo é o monstro que nos faz caretas para além do véu.
                                                                                                                                             Célia Gil 

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