Futura velha num banco de jardim

(imagem de bufagato.blogspot.com)
(imagem do Google)

Naquele banco de jardim,
velho, só, abandonado,
repousa os olhos cansados
deixando-os vaguearem até mim.

Pego-lhe nas mãos angulosas,
olho-o nos olhos cansados.
E as rugas do seu rosto
testemunham estas horas preciosas.

Conta-me histórias, a tua vida,
lamuria-te do que a vida te tirou,
estou aqui para te ouvir com atenção
conta-me tudo o que o tempo te levou.

Não tenho pressa, não vou a nenhum lado,
hoje tirei o dia para te fazer companhia,
conta-me como já foste feliz,
já amaste bela mulher, foste soldado…

Acham que pouco ou nada tens para dar,
olham-te como um farrapo humano,
mas tu és a fonte da sabedoria,
soubeste e saberás sempre amar.

O amor não tem limite ou idade,
fica na alma de quem é sensível,
a sabedoria essa nem todos têm,
nem a conhece bem a nova mocidade.

Neste solitário banco de jardim,
seguras-me nas mãos e contas-me
o que te vai na alma, a impiedade
com que um dia também me ignorarão a mim.
                                                        Célia Gil





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