Desponderação

(imagem de conexioncubana.net)



O meu eu remete-se ao silêncio
das questões por resolver.
Debate-se em comícios interiores,
em reflexões intensas até doer.
Sinto-me desponderada.
A minha balança pende para um dos lados.
No prato do lado esquerdo
está o que me prende à vida,
os bons momentos,
os bons sentimentos,
os meus rebentos,
o bem do mundo,
o amor profundo,
a lealdade, a fraternidade, a amizade,
a liberdade, a paz, a tranquilidade.
No prato do lado direito
estão as vicissitudes da vida,
os objectivos por alcançar,
os sonhos por atingir,
as metas por cruzar,
os ideais por conseguir,
o ódio, o desprezo, a guerra,
o ciúme, a inveja, a desconfiança,
o medo, o engano,
a vida que cai por terra,
os obstáculos por ultrapassar,
um mundo sórdido e insano.

A minha balança está desponderada
e pende para o lado direito.
Procuro então preencher o vazio
do prato do lado esquerdo.

Preciso de me voltar a equilibrar
e encontrar o contraponto da dor,
acalmar o meu ser sofredor
e poder voltar-me a encontrar.
                                         Célia Gil

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