A outra face da dor - o poema que ouvi pelo coração

(imagem do Google)

Filha,
quero que saibas
e me perdoes,
me autorizes a partir…
Sabes,
sinto-me tão cansada
deste viver que já não é vida.
Mas tu…
Sei que estás triste
E aguentarei a dor
para que sofras menos.
Aguentarei…por quanto tempo?
Mais uns meses, mais uns dias,
umas horas…quem sabe?
Não aguento ver a dor estampada no teu rosto,
a tua angústia, o teu desgosto.
Filha,
Aperta-me a mão com força,
a minha escasseia
mas está aqui
nos meus olhos abertos
que te vêem mesmo que o duvides.,
mesmo que me sintas já ausente.
Por favor,
Faz-me um carinho no rosto,
Quero sentir a tua pele,
o teu calor no frio que me assola.
Filha,
Dá-me um beijo
para levar comigo
esse elo de amor que nos une.
Sei que te vou fazer falta…
Sei bem demais!
Mas as dores vão aumentando.
Se soubesses como dói!
A dor física e a dor de te deixar
mais tarde ou mais cedo.
Eu não quero,
mas o meu corpo chora,
todo ele chora
e geme em agonia.
Como eu queria lutar contra tudo,
levantar-me e abraçar-te.
Ir para casa,
cuidar dos netos,
ser a tua Mãe!
Mas as dores voltam, filha,
e são mais fortes do que eu.
Sinto que perdi esta batalha com a morte,
essa toda poderosa
que está aqui, neste quarto de hospital
à minha espera
à nossa espera.
Queria tanto chamar por ti,
dizer mais uma vez o teu nome
o quanto te amo,
mas as palavras já não saem
e a minha boca abre-se num gesto vazio…
Sinto que perco esta guerra que travámos durante três anos,
com uma força inexplicável,
uma fé inabalável
uma esperança infindável.
Mas tudo termina,
as forças foram-se com a dor.
E eu estou cada vez mais longe de mim mesma.
Filha,
dá-me a tua mão,
quero repousar em paz.
Quero acabar com este suplício.
Eu vou, mas fico na tua memória,
sei que fico,
nas lembranças,
nos lugares,
nas alegrias e tristezas que vivemos…
Nas encruzilhadas da vida,
lá estarei para te sugerir o melhor caminho a seguir.
Apoiar-te-ei na tua dor,
Mesmo já não estando presente.
Preciso partir!
                                        Célia Gil

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