Louvor à ficção

(imagem do Google)

Procuro a harmonia
entre a palavra e o sentimento.
Busca incessante e infrutífera.
Incessante procura! Quando encontro a palavra,
o sentimento já não é o que sinto.
Se, pelo contrário, tenho o sentimento
não há palavra que o possa exprimir.

E os poetas que pensam ter
o domínio das palavras
e o auge dos sentimentos,
desconhecem que a palavra é criação,
e o sentimento ficção.
Convencem-se que são sinceras.
E não serão?
O que é afinal a sinceridade?
A ficção ou a verdade?

Indefinível verdade
se quem me olho ao espelho
já não é a realidade
mas a projecção do que penso,
do que sinto e do que me invento

Doce ficção,
tenebrosa ficção,
sempre pronta a criar
uma doce ilusão,
um sonho arrebatador,
uma dor e uma traição…
Dedico o meu louvor
à força da tua emoção!
                       Célia Gil

1 Comentarios

  1. Ao ler este poema, automaticamente me lembrei daquele célebre de Fernando Pessoa:

    "O poeta é um fingidor
    Finge tão completamente
    Que chega a fingir que é dor
    A dor que deveras sente"

    Só poemas de alto calibre fazem lembrar outros semelhantes... Parabéns

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